segunda-feira, junho 13, 2022

Capacitismo de uma amiga minha cadeirante 🍀🍀🍀

 

"Quinta-feira, dia 9 de junho, tive com uma pessoa incrível, durante uma hora e meia. Sem contar e nem estar nada combinado, o meu pai participou na conversa. Ninguém estava a contar que fosse assim, o que foi ótimo.

Conversamos de diversos assuntos, tais como: feitios, personalidades, preocupações, receios do futuro, entre outros.

Eu e o meu pai temos o mesmo feitio e é por isso que, as vezes, discutimos. Mas também damos bem em termos de tomar decisões e de ter ideias idênticas. Somos de ideias fixas e persistentes, muita gente não gosta mas somos assim. Sempre fui desde criança e adora ser igual à minha mãe, é o meu ídolo. Tive azar porque não sou muito parecida com ela e nem a personalidade. Sou muito parecida com o meu pai e tenho muito ADN da minha tia, em termos de não conseguir tomar comprimidos, não gostar de roupa junta e cintas subidas (o umbigo não pode estar tapado, abafa e falta o ar), os gostos são idênticos. Por vezes a minha mãe diz que parece que sou filha da minha tia do que dela própria.

Gosto de aventuras, de adrenalina e loucura. Já andei de moto, fiz slide, andei e ando de carro em alta velocidade, entre outras. Falta-me atirar de um avião com paraquedas e andar outra vez de moto e, também, ir ao rock in rio (adrenalina,música e do espetáculo). 

Os meus pais preocupam-se muito com o meu futuro e com o medo que ninguém “cuide” de mim quando morrerem. Digo, tantas vezes, que devesse viver um dia de cada vez, aproveitar a vida ao máximo e tudo se resolve, existe solução para tudo menos para a morte. Viver a vida da melhor forma, não estar sempre a pensar no dia de amanha, hoje estamos cá amanhã não sabemos. Viver o momento.

Ao contrário do que posso demonstrar, não tenho medo da morte. O que tenho medo e receio, é do sofrimento de perder quem amo. Porque eu morrer não tenho receio nenhum. Quando for a minha vez irei. Não queria que fosse uma morte sofrida, de dor, é por isso que sou a favor da eutanásia. Ninguém, no meu entender, deve estar em sofrimento profundo, com imensas dores (nem com medicação) e sem solução (esperança de vida, até dito pelos próprios médicos), á espera que o coração pare. Na minha opinião, acho que é um ato de crueldade para com o ser humano, num estado de democracia e liberdade. 

Sobre a sexualidade, gosto muito do meu corpo, acho-me sexy, não alterava nada. 

A cadeira de rodas é a maneira de poder deslocar-me para todo o lado, senão nem sequer saía da cama ou de casa. Ainda bem que inventaram a cadeira de rodas, dá liberdade e autonomia às pessoas como dificuldades de andar. Antigamente, a pessoa que não andasse ou tivesse deficiencia motora, ficavam fechados a vida toda em casa. No tempos modernos, já todos podemos ter uma vida ativa através de equipamentos de apoio, cada vez mais atualizados. O que falta, ainda, mudar é a mentalidade do ser humano. A nova geração já tem outro pensamento mas ainda não é suficiente, ainda dão ouvidos aos mais velhos e não pode ser. As escolas e infantários começam a ter, cada vez mais, crianças com necessidades especiais, o que é ótimo para a sociedade, só que há pais preconceituoso e não querem que o seu filho conviva com essas crianças especiais (como aconteceu comigo no infantário, tivemos pena, não sei nem deixei de ir aos passeios por causa do um pai que não queria seu filho junto a mim, o menino podia ficar traumatizado), como é possível!

 Ainda existe muito preconceito, capacitismo, como ir na rua e ouvir: 

- “coitadinha, que pena estar numa cadeira de rodas, é tão bonita” (lol, só os feios é que tem que estar numa cadeira de rodas (para mim não há pessoas bonitas nem feias)).

- “olha uma bebé” – a dizer para o filho pequeno (porquê que olham para nós, seres humanos, como bebés ou crianças, não entendo (acontecia-me isso quando ia passear, percursos longo, de carrinho de criança, pois era pequena e magra dava perfeitamente e ocupava menos espaço. Lembro-me, e dá vontade de rir, numa visita de estudo no 5° ano, uma mãe passou por mim e disse para o filho: “é uma bebé grande”, o meu primo e colegas passaram-se e responderam: “não é bebé, é uma adolescente normal só com dificuldades em andar. É o que a senhora deve explicar ao seu filho.”))

- “deus vai ajudar a voltares a andar” (mas quê é que diz que eu quero andar, correr, etc, a pessoa não conhece-me de lado nenhum para saber o que quero ou deixo de querer)

- “estas a fazer fisioterapia para quê, para andares?” (a fisioterapeuta é como uma gisnastica e melhorar alguns movimentos).

Perguntam à minha mãe se estou melhor ou pior. O que eu tenho não é uma doença, mas sim um problema. Não entendem nem percebem, ou fazem-se de “burrinhos”. 

Neste país ainda existe tanta coisa para mudar, em termos de mentalidades e acessibilidades. As pessoas tenham que nos ver de forma igual, se pedimos ajuda, ajudarem, se não deixá-nos no nosso canto, não pressionarem. Os municípios, estabelecimentos e edifícios deviam de ter acesso a cadeira de rodas, rampas e WC. Por exemplo, quero ir da minha casa á cidade de cadeira elétrica não posso porque não há passeios apropriados nem rampas nas passadeiras. Quero entrar numa loja ou restaurante tenho que antes ver se tem rampa ou é ao nível do passeio, se tem WC para cadeiras de rodas, se tem espaço para uma cadeira de rodas, enfim. As pessoas é que não facultam o acesso a tudo o que os “normais” fazem.

Há muito a mudar neste país. Tive o privilégio de conhecer outro país, Alemanha, e sem dúvida é muito mais evoluído do que Portugal. Passeios, rampas ou plataforma, espaços amplos, WC para cadeiras de rodas em todo o lado, transportes adequados, as pessoas não são preconceituosas um país muito à frente. Não sei se é por que as pessoas de cadeira de rodas “saem” mais à rua, fazem uma vida ativa e o país teve que se adaptar e modernizar. Se for isso, então apelo a todos os que se deslocam em cadeira de rodas saírem de casa e venham para a rua, ligas e estabelecimentos, haver se o nosso país modernize e façam acessos para todos.

O capacitimo e o preconceito só existem na mente de cada um se quiserem!

Cada um pode e deve mudar e evoluir!"

http://ritinhasilvinha.blogspot.com o blog da minha querida amiga Rita que também se revolta sobre o capacitismo de pessoas como nós com Deficiência!!!! 


Sem comentários: